sábado, 15 de dezembro de 2012

Depoimentos - as nossas histórias

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Lara, 19 anos, Porto(Portugal)
''Começei a arrancar o cabelo aos 11 anos. Como acontece com a maioria das pessoas, comecei de uma maneira muito estúpida. Andava no 6º ano de escolaridade, e estava a adorar a disciplina de Ciências da Natureza, na qual estávamos a observar coisas ao microscópio. Estas coisas fascinavam-me na altura.
Um dia a professora de ciências disse ''a raíz do cabelo é uma coisa muito bonita e interessante de se ver ao microscópio''. Uish, fiquei curiosíssima, e o meu Pai, que trabalhava num laboratório de análises clínicas e coisas do género, não se importou de me levar uma tarde com ele para o trabalho para eu poder ver o que queria. Estava em pulgas.
Passei lá uma tarde no laboratório. Lá tinha eu que fazer o sacrifício de arrancar o cabelo para poder ter o prazer de observa-lo.... É... na altura era um sacrifício pensar na ideia... Lembrava-me dor... Arranquei um. au. Não via raíz nenhuma. Arranquei outro e outro. e outro e mais outro. Não vinha raíz. A ponta vinha ligeiramente ''molhada'' e dobrada, mas não me parecia nada uma raíz de um cabelo. Nessa tarde não consegui arrancar nenhuma e ver como tanto queria.

Fui para casa triste, mas ainda com a ideia na cabeça. Em casa não desisti. Continuei numa tentativa incessante de encontrar qualquer coisa que se parecesse com uma raíz do cabelo para guardá-la e levá-la noutro dia. De repente, já tinha uma pelada em cima da cabeça, mesmo à Santo António. E às tantas. EUREKA. Às tantas achei mesmo a raíz e apaixonei-me. Era branca, húmida, com uma cabecinha preta. Nunca tinha visto nada assim. Continuei a arrancar toda louca a procura de mais e mais iguais, estava em êxtase, tinha um bichinho para as ciências dentro de mim.

Escusado será dizer-vos como fiquei. Carequinha. Cada vez mais. E assim nasceu esta mania estúpida.

Mas na altura, eu era Maria Rapaz. Não me importava. Arrancava na escola e mostrava as raízes aos meus colegas a achar que era tão importante para eles como era para mim. Achavam-me maluca. Um dia os meus pais raparam-me o cabelo. Sinceramente? Não me importei.

Mas nessa altura, a tricotilomania só durou um ano. Eu via como os meus pais sofriam, entretanto a minha mãe teve cancro e eu senti-me forçada a parar. E nunca mais arranquei um cabelo... até ao meu 9º ano (2 anos depois).

Mas quando a doença voltou, voltou fraquinha. E voltou de uma maneira muito estúpida mais uma vez. Lembro-me de estar deitada e de me lembrar ''eish pois é, quando era miúda arrancava cabelo, e incrível é que não me doía, será que hoje  também não doi?'' e arranquei um para ver. Doeu. E a partir daí, zum zum zum. Mas a doença andou mais ou menos controlada, até aos meus 17 anos. Tive uns problemas. Andei a tomar anti-depressivos e comprimidos para dormir (os anti-depressivos ainda hoje os tomo) e a tricotilomania agravou-se muito. Passei noites em branco a arrancar os meus cabelos. Mas mais uma vez dei a volta, e estive uns meses sem arrancar. O verão passado (2012) ele estava a ficar... perfeito outra vez. Já mergulhava, já parecia uma pessoa normal... Mas agora, em Dezembro de 2012, dei cabo de tudo outra vez... Não sei porquê. Não ando com problemas... A não ser alguma pressão e trabalhos para fazer para a faculdade... Mas desta vez foi a maior recaída de todos os tempos. Estou careca como nunca estive. Por isso criei este grupo. Para pedir ajuda e para ajudar. E para dizer que já estive dois anos sem arrancar um único cabelo. E que por isso, é possível. Se pensarmos bem, é só não arrancar certo? No fundo depende de nós. Basta não irmos com as mãos ao cabelo. Coisa tão difícil e tão fácil ao mesmo tempo... Mas eu vou conseguir...
Curioso que ainda hoje não sei como é a raíz do cabelo ao microscópio''


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